Os shunts hepáticos nos cães era algo incomum na rotina da medicina veterinária. Porém, com o avanço da tecnologia e a especialização dos médicos veterinários ultrassonografistas esse diagnóstico está cada vez mais presente na rotina clinica e cirúrgica de pequenos animais.
Antes de mais nada vamos começar voltando a nossa aliada anatomia do sistema hepático do animal e sua fisiologia. O sistema porta distribui o fluxo vascular, drenando os fluídos do trato digestivo. Esse sangue transporta nutrientes, hormônios e outros materiais excretados e supostamente passa pelo fígado antes de ir para todo o organismo. O fígado então apreende o que ele precisa para funcionar propriamente e também atua na detoxicação deste sangue antes de enviar adiante.
Um SHUNT pode ser definido como uma passagem anômala nos vasos portosistêmicos. Ele faz com que duas estruturas vasculares se conectem, causando turbulência vascular e fluxo reverso. Um shunt portosistemico é especificamente um vaso sangüíneo anormal no sistema circulatório.
E quais são as causas de SHUNT hepático em cães ?
Os Shunts hepáticos sao divididos em diferentes categorias: Congênitos e adquiridos. Os congênitos são os mais comuns diagnosticados na nossa rotina clinica veterinária com 80% dos casos. Normalmente os paciente não passam de até 3 anos de idade e em sua maioria juvenis. Os sintomas podem se iniciar tardiamente. Sinais precoces podem ser percebidos e relatados pelos seus tutores.
Não há predileção para as raças uma vez que já foi diagnosticado na maioria delas como : Daschound, Schanauzer, Poodle, Shitzu, Bichon Frise, Lhasa etc.
Esse vaso anômalo leva a sérias consequências para a vida do animal e seu bem estar. O SHUNT hepático adquiridos diferencia em um desequilíbrio de pressão associada com cirrose hepática. Os sintomas aparecem em cães idosos em sua maioria mas a escassa quantidade de artigos publicados e amostragem baixa, deixa pobre os parâmetros comparativos.
Na minha rotina clínica o SHUNT mais encontrado é o portocaval. Porém ele em sua maioria não está sozinho e outros Shunts associados podem ser sub diagnosticados. A experiencia do ultrassonografista atua na acurácia do diagnóstico.
Importante ressaltar que esse exame não é um exame de ultrassonografia abdominal e sim um exame com protocolos específicos com terminologia especifica chamado de ultrassonografia Doppler hepática. Os valores são diferentes do abdômen total e com média de preço de mercado superior ao abdominal, uma vez que exige tecnologia avançada com aparelhos específicos e avaliação dopplervelocimétrica.
Os sintomas mais comuns relatados pelos tutores são: desenvolvimento lento, abdômen aumentado, apetite reduzido, dificuldade em ganhar peso, hematúria e dificuldade em urinar, vômitos hemorrágicos, diarréia e sinais nervosos como cycling, head press e desordem mental.
O exame padrão gold para conduzir esse quadro é o exame de ultrassom veterinário. A ultrassonografia Doppler Hepática exige experiência e a ferramenta Doppler no aparelho.
Abaixo temos uma imagem ultrassonográfica de um Shunt portocaval em paciente canino com os sintomas de aumento abdominal, vomito, desenvolvimento lento. Na imagem pode-se verificar a presença de um vaso anômalo em topografia de veia porta e veia cava (portocaval) com a presença de fluxo turbulento vascular ao mapeamento dopplervelocimétrico.
O protocolo do exame ultrassonográfico deve seguir parâmetros publicados como por exemplo é fundamental que em janela hepática de varredura estejam os três vasos no mesmo plano de imagem para a mensuração do diâmetro deles. O parâmetro 1:1:1 é o de referência. Abaixo está imagem ultrassonográfica de paciente aonde é realizado com os calíperes a mensuração dos 3 vasos : aorta, cava e porta. Notem o mesmo plano de imagem.
A maioria dos pacientes são tratados com mudanças alimentares ou procedimentos cirúrgicos na implantação de um constritor aneróide ou bandas de celofane. Os sinais desaparecem após a recuperação cirúrgica na maioria dos animais tratados cirurgicamente. Obviamente depende da precocidade do diagnóstico.